sexta-feira, 11 de dezembro de 2015


"não nasci em montes claros. não tenho nome completo. não sou professor. não consegui conciliar nada com a literatura. nunca publiquei nada. atualmente não resido em porto alegre. não me chamo eduardo veiga. não escrevo poesia há mais de 15 anos. não estou organizando meu primeiro livro. não sou graduado em letras. não acredito que a poesia seja necessária. não estou concluindo nenhum curso de pedagogia. não colaboro em nenhum suplemento literário. não estou presente em todos os movimentos culturais da minha terra. não sou membro da academia goiana de letras. não trabalho como assessor cultural da sec. meus pais não foram ligados ao cinema. não tenho tema preferido. não comecei a fazer teatro aos 12 anos. não me especializei em literatura hispano-americana. não tenho crônicas publicadas n’o republica de lisboa. não passei minha infância em pindamonhangaba. não canto a esperança. não recebi nenhuma premiação em concurso de prosa e poesia. não tenho sete livros inéditos. não sou considerado um dos maiores poetas brasileiros. nunca fui convidado para dar palestras em universidades. não vejo poesia em tudo. não faço parte do grupo noigrandes. não me interesso por literatura infantil. não sou casado com o poeta afonso ávila. na minha estréia não recebi o prêmio estadual de poesia. o crítico josé batista nunca disse nada a meu respeito. não sofri influência de bilac. não sou ativo, nem dinâmico. não me dedico com afinco à pecuária. não sou portador de vasto curriculum. não recebi mensão honrosa no concurso de poesia ferreira gullar. não exerço nenhuma atividade docente, nem decente. não iniciei minha carreira literária no exército. não fui a primeira mulher eleita para a academia acreana de letras. não tenho poesias traduzidas para o francês. não estou incluído numa antologia a ser publicada no méxico. minha poesia não é corajosa. não gosto de arqueologia. walmir ayalla nunca me considerou um revolucionário. nunca tentei compreender o homem na sua totalidade. não vim para o brasil com 5 anos de idade. não aprendi russo para ler maiakowski. meu pai não é chileno. não sou virgem, sou capricórnio. não sou mãe de seis filhos. nunca escrevi contos. não me responsabilizo pelos poemas que assino. não sou irônico. não considero drummond o maior poeta da língua portuguesa. não gosto de andar de bicicleta. não sou chato. não sei em que ano aconteceu a semana de 22. não imito ninguém. não gosto de rock. não sou primo dos irmãos campos. não sou nem quero ser crítico literário. nunca me elogiaram. nunca me acusaram de plágio. não te amo mais. minha poesia nunca veiculou nada. não sei o que vocês querem de mim. não espero publicar nenhum romance. não sou lírico. não tenho fogo. não escrevi isto que vocês estão lendo."

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Antes do fim

Eu não posso evitar!
Por mais que eu saiba que é o fim, não posso evitar!
Eu fiquei exposto ao sol todos esses dias.
É, eu sei muito bem e você também sabe o que é a pele arder.
Tenho pensado sobre o que nos aproximou, sabe?
Você olhou de longe e veio de propósito sentar ao meu lado. Não sei se esperava que eu falasse algo além de um bom dia, então guardei isso para hoje.
Depois daquele dia andei pelos quatro cantos dessa cidade tentando fugir de você. Procurei entender porque esse fantasma estava alojado em todos os olhares que me rodeavam e imaginei qual seria o próximo momento que você passaria por perto, assim eu poderia disfarçar, aproximar-me de você e, enfim, conseguir olhar no fundo dos seus olhos e causar um encontro casual.
Acontece que eu não consigo decifrar esse fantasma... Não sei se ele é real.
Hoje eu me sinto como se fosse a última vez que estaremos aqui.
E eu... Eu tenho que partir.
Aquela dança que nunca tivemos, poderíamos tê-la algum dia, o que acha?
E eu queria ouvir as últimas notas da sua voz cantando aquela canção, como a vez que você cantou o que estava no seu fone de ouvido. Foi engraçado você ficando vermelha ao ver que as pessoas estavam prestando atenção.
Eu senti aquilo penetrar meu pensamento e era nítido o desejo de todos ali por uma parcela daquele sentimento que sua voz transmitia. Era quinta-feira, estávamos sentados, enquanto o sol ia se pondo lentamente por trás do seu rosto...
Uma parte daquela canção me traz a lembrança da melodia de um violão desafinado e o barulho de vozes em um pátio da escola enquanto eu tentava cantar no intervalo.
Desejei não ter te encontrado dessa forma...
Eu queria ter aproveitado mais o dia.
A gente poderia ter tomado um sorvete, ou banho de chuva (aquele dia choveu, lembra?)
Você saiu correndo e eu fiquei com um adeus na mão que não segurava o guarda-chuva, acenando e vendo você se afastar por trás do vidro embaçado e o seu rosto já estava distante demais para esboçar qualquer reação.
Hoje não está chovendo.
Eu tenho as lembranças das últimas despedidas que tive, e todas as vezes que tive que recomeçar.
E carrego as cicatrizes dos verões passados, que me fazem lembrar todo dia de como as consegui.
Eu confesso que nunca soube, de fato, como lidar com o coração.
A vida me fez ter que carregar tantos que minhas manobras pra não deixá-los cair me tornaram um verdadeiro equilibrista.
Um híbrido de malabarista e contorcionista...
Mas deixei alguns caírem e hoje estão espalhados no chão,
Eu os vejo no meu jardim, todos os dias, ao sair.
Assim como vejo você.
Penso se sentirei falta de algo que vem desses encontros,
E confesso que penso em todas as coisas que nunca fizemos...
Não sei quem você é.
Eu só queria saber seu nome,
Ou qualquer coisa sobre você
Antes de você descer do ônibus...

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Caí em meu patético período de desligamento.
Muitas vezes, diante de seres humanos bons e maus igualmente,
Meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam,
Eu desisto.
Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero magoar ninguém.
Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas.
Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual. Deixa pra lá.
Meu cérebro se tranca. 
Eu escuto.
Eu respondo.
E eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali.

(Buk)