Por mais que eu saiba que é o fim, não posso evitar!
Eu fiquei exposto ao sol todos esses dias.
É, eu sei muito bem e você também sabe o que é a pele arder.
É, eu sei muito bem e você também sabe o que é a pele arder.
Tenho pensado sobre o que nos aproximou, sabe?
Você olhou de longe e veio de propósito sentar ao meu
lado. Não sei se esperava que eu falasse algo além de um bom dia, então
guardei isso para hoje.
Depois daquele dia andei pelos quatro cantos dessa cidade tentando
fugir de você. Procurei entender porque esse fantasma estava alojado em todos
os olhares que me rodeavam e imaginei qual seria o próximo momento que você
passaria por perto, assim eu poderia disfarçar, aproximar-me de você e,
enfim, conseguir olhar no fundo dos seus olhos e causar um encontro casual.
Acontece que eu não consigo decifrar esse fantasma... Não sei se
ele é real.
Hoje eu me sinto como se fosse a última vez que estaremos aqui.
E eu... Eu tenho que partir.
Aquela dança que nunca tivemos, poderíamos tê-la algum dia, o que
acha?
E eu queria ouvir as últimas notas da sua voz cantando aquela
canção, como a vez que você cantou o que estava no seu fone de ouvido. Foi
engraçado você ficando vermelha ao ver que as pessoas estavam prestando
atenção.
Eu senti aquilo penetrar meu pensamento e era nítido o desejo de
todos ali por uma parcela daquele sentimento que sua voz transmitia. Era
quinta-feira, estávamos sentados, enquanto o sol ia se pondo lentamente por
trás do seu rosto...
Uma parte daquela canção me traz a lembrança da melodia de um
violão desafinado e o barulho de vozes em um pátio da escola enquanto eu
tentava cantar no intervalo.
Desejei não ter te encontrado dessa forma...
Eu queria ter aproveitado mais o dia.
A gente poderia ter tomado um sorvete, ou banho de chuva (aquele
dia choveu, lembra?)
Você saiu correndo e eu fiquei com um adeus na mão que não
segurava o guarda-chuva, acenando e vendo você se afastar por trás do vidro embaçado e o seu rosto já estava distante demais para esboçar qualquer
reação.
Hoje não está chovendo.
Eu tenho as lembranças das últimas despedidas que tive, e todas as
vezes que tive que recomeçar.
E carrego as cicatrizes dos verões passados, que me fazem
lembrar todo dia de como as consegui.
Eu confesso que nunca soube, de fato, como lidar com o coração.
A vida me fez ter que carregar tantos que minhas manobras pra não
deixá-los cair me tornaram um verdadeiro equilibrista.
Um híbrido de malabarista e contorcionista...
Mas deixei alguns caírem e hoje estão espalhados no chão,
Mas deixei alguns caírem e hoje estão espalhados no chão,
Eu os vejo no meu jardim, todos os dias, ao sair.
Assim como vejo você.
Assim como vejo você.
Penso se sentirei falta de algo que vem desses encontros,
E confesso que penso em todas as coisas que nunca fizemos...
Não sei quem você é.
Eu só queria saber seu nome,
Ou qualquer coisa sobre você
Antes de você descer do ônibus...