quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Antes do fim

Eu não posso evitar!
Por mais que eu saiba que é o fim, não posso evitar!
Eu fiquei exposto ao sol todos esses dias.
É, eu sei muito bem e você também sabe o que é a pele arder.
Tenho pensado sobre o que nos aproximou, sabe?
Você olhou de longe e veio de propósito sentar ao meu lado. Não sei se esperava que eu falasse algo além de um bom dia, então guardei isso para hoje.
Depois daquele dia andei pelos quatro cantos dessa cidade tentando fugir de você. Procurei entender porque esse fantasma estava alojado em todos os olhares que me rodeavam e imaginei qual seria o próximo momento que você passaria por perto, assim eu poderia disfarçar, aproximar-me de você e, enfim, conseguir olhar no fundo dos seus olhos e causar um encontro casual.
Acontece que eu não consigo decifrar esse fantasma... Não sei se ele é real.
Hoje eu me sinto como se fosse a última vez que estaremos aqui.
E eu... Eu tenho que partir.
Aquela dança que nunca tivemos, poderíamos tê-la algum dia, o que acha?
E eu queria ouvir as últimas notas da sua voz cantando aquela canção, como a vez que você cantou o que estava no seu fone de ouvido. Foi engraçado você ficando vermelha ao ver que as pessoas estavam prestando atenção.
Eu senti aquilo penetrar meu pensamento e era nítido o desejo de todos ali por uma parcela daquele sentimento que sua voz transmitia. Era quinta-feira, estávamos sentados, enquanto o sol ia se pondo lentamente por trás do seu rosto...
Uma parte daquela canção me traz a lembrança da melodia de um violão desafinado e o barulho de vozes em um pátio da escola enquanto eu tentava cantar no intervalo.
Desejei não ter te encontrado dessa forma...
Eu queria ter aproveitado mais o dia.
A gente poderia ter tomado um sorvete, ou banho de chuva (aquele dia choveu, lembra?)
Você saiu correndo e eu fiquei com um adeus na mão que não segurava o guarda-chuva, acenando e vendo você se afastar por trás do vidro embaçado e o seu rosto já estava distante demais para esboçar qualquer reação.
Hoje não está chovendo.
Eu tenho as lembranças das últimas despedidas que tive, e todas as vezes que tive que recomeçar.
E carrego as cicatrizes dos verões passados, que me fazem lembrar todo dia de como as consegui.
Eu confesso que nunca soube, de fato, como lidar com o coração.
A vida me fez ter que carregar tantos que minhas manobras pra não deixá-los cair me tornaram um verdadeiro equilibrista.
Um híbrido de malabarista e contorcionista...
Mas deixei alguns caírem e hoje estão espalhados no chão,
Eu os vejo no meu jardim, todos os dias, ao sair.
Assim como vejo você.
Penso se sentirei falta de algo que vem desses encontros,
E confesso que penso em todas as coisas que nunca fizemos...
Não sei quem você é.
Eu só queria saber seu nome,
Ou qualquer coisa sobre você
Antes de você descer do ônibus...