terça-feira, 9 de outubro de 2012

Apenas sorria.


01:40 a.m.

Eu olho pelo vão da janela.
O vento gelado sopra e impede meus olhos de ficarem totalmente abertos.
Estava relativamente longe, portanto não conseguia ver muita coisa.
Mas consegui ver os olhares.
Uma das chamas estava apagada, a outra tocha ainda permanecia acesa.
Uma fogueira.
Risos, gritos, músicas desconhecidas e minhas pupilas dilatadas dificultavam um pouco a compreensão, mas aqueles olhares estranhos dos conhecidos que estavam ali, estranhamente, pelo mesmo motivo, me fizeram entender.
Sou apenas mais um estranho.
O espaço retangular dessa janela faz do pouco céu que aparece ali uma verdadeira pintura, com as nuvens passando lentamente...
E parado ali, olhando, me vem uma sensação de movimento.
Um espaço limitado, perto da imensidão das estrelas... não me impediu de ver a Lua sorrindo e escorpião apontando para ela, como se estivesse indicando que tenho a obrigação de observá-la.
É como se ela entendesse que não tem motivos pra não sorrir, mesmo brilhando nesse céu cinza que tem anunciado o fim dos dias.
Poderia jurar que ouvi ela me dizer:
-Apenas sorria.
Eu disse isso tantas vezes para mim mesmo que nem sei se dessa vez fui eu quem disse, na verdade.
O que custa tentar tirar a felicidade dessa prisão?
Não seria meu corpo um mar, para refletir esse sorriso, em plena madrugada?
Não seria o céu um abrigo, pra estender de vez essa solidão?
Quando eu me sinto só, ela sempre aparece...
E dessa vez, te devi uma canção.
Sorrir e escrever alguns pensamentos tem me trazido a paz que a omissão tem me tirado.
Então eu tento... e, atento, escrevo.
Queria saber fazer um avião de papel que voasse diretamente ao destino que minhas palavras querem chegar...
Ou simplesmente queria deixá-las escorregarem pela boca.
Será que ditas, retirariam a complexidade dessas palavras, jogadas em uma folha qualquer?
Meus versos não teriam sentido.

Então eu sorrio.
Apenas sorrio...